Postado por Vitor Zehel em Filmes e Séries | 0 Comentário(s)
Como minha esposa ama filmes de terror, fui com ela assistir o Exorcista do Papa com Russel Crowe. E como vocês me conhecem, antes de dar a minha crítica sobre o filme, preciso relatar os fatos que o filme traz para que vocês também possam chegar a um senso crítico sobre todo o ambiente do filme.
O próprio filme traz um pouco da história do padre exorcista Gabriele Amorth, nascido no dia 1 de maio de 1925 em Roma na Itália. Assim como é mencionado no filme, ele foi combatente na segunda guerra mundial recebendo a medalha de Valor Militar.
Licenciado em Direito, foi membro da Pia Sociedade de São Paulo onde foi ordenado sacerdote em 1954.
Pregador, professor e escritor, também foi jornalista profissional durante muitos anos, sendo diretor da revistaMadre di Dio.
Em 1986 foi nomeado exorcista de Roma pelo cardeal Hugo Poletti. E é nesse ano que começa a trama do filme.
Mas antes de começar a falar sobre o filme, se quiser ficar mais familiarizado sobre a vida do padre Amorth, trarei uma lista dos livros publicados por ele, que são:
Existem outros livros publicados por padre Amorth, mas farei um artigo completo sobre ele e sua influência com relação aos filmes de exorcismos em outro artigo.
Sabemos que ele foi o exorcista mais famoso do mundo e após sua morte em 2016, ouvimos sobre a prática apenas em filmes e cada vez mais falas sobre o exorcismo ser uma prática medieval. Mas sabemos que esse tipo de ritual não é uma prática exclusivamente católica. Ed e Lorraine Warren também ficaram famosos por combater o mal mesmo não sendo padre ou freira, outras religiões também possuem rituais de exorcismo, até mesma as derivadas do cristianismo. No próprio mundo cristão, temos a subdivisão da igreja cristão em católicos apostólicos romanos, ortodoxos, os protestantes que surgiram com a reforma feita pelo monge alemão Martinho Lutero, que pregou na igreja o papel com as 95 teses da reforma, além de outras consideradas como seitas e que usam também o cristianismo como base.
Como vocês puderam ler, o filme começa no ano em que o padre Amorth é nomeado o exorcista de Roma pelo cardeal Hugo Poletti. No filme, ele é apresentado como o exorcista do Papa. Apesar de não mencionar no filme, o Papa naquela época era o João Paulo II, Karol Voitila. Essa é a primeira diferença. Entendo que o apelo do padre Amorth ser o exorcista próximo ao Papa é maior do que apenas dizer que ele é o exorcista-chefe. Primeira cena do filme mostra o padre indo de motoneta para uma casa distante da cidade onde tem um jovem possuído. Apesar de parecer ser um ritual de exorcismo, ele não faz nada a não ser provocar a pessoa possuída e criar um teatro usando um porco (provavelmente baseado na passagem bíblica em que Jesus expulsou os demônios de um jovem e os mandou para os porcos que pularam do precipício).
Mesmo dentro da igreja católica, já existe uma resistência com relação ao exorcismo e ele já aparece sendo julgado por algumas pessoas da igreja. Essa é apenas a introdução do filme ao personagem exorcista Gabriele Amorth.
Esta é a parte mais polêmica do filme, principalmente para os não católicos. Sabemos que na Idade Média, a igreja católica dominava o continente europeu, até mesmo as famílias nobres, eram obrigados a entregar um de seus filhos para o sacerdócio na igreja. Como esse fato me intrigou no filme, resolvi estudar mais sobre o fato e tentar averiguar se isso consta em algum dos livros do padre Amorth.
A história no filme é a seguinte, o local onde ocorre a possessão do menino, foi selado um demônio poderoso. Agora vem o spoiler do filme: esse demônio chegou a possuir várias pessoas influentes de dentro da igreja e é apresentado no filme como o responsável pela inquisição feita pela igreja. Pronto, temos a desculpa do século sobre as milhares de pessoas mortas por praticar a ciência primitiva como por exemplo a alquimia que, nada mais é, do que a química em sua forma primitiva, além de outras práticas que fizeram até mesmo alguns cientistas famosos, negarem suas descobertas para que suas vidas fossem poupadas pela igreja. Ele filme baseado em fatos reais simplesmente fala que uma das pessoas que chefiou a inquisição, estava possuído por esse poderoso demônio que estava à procura dos outros 199 anjos caídos.
Agora para continuarmos com relação a este assunto polêmico no filme, vamos falar um pouco sobre a inquisição, especificamente a espanhola pelo filme se passar na Espanha.
Estudando sobre a inquisição espanhola já temos uma divergência, o filme trata a inquisição feita pelo próprio Papa e exorcistas e frei e muitos outros sacerdotes da igreja católica. Na história, temos a criação da inquisição espanhola sob o controle do rei Fernando II de Aragão e Isabel I de Castela. Essa era uma inquisição diferente da medieval que estava sob o controle do Papa. Devemos lembrar que a inquisição espanhola atuava mais sob o controle de judeus e muçulmanos convertidos ao cristianismo. E ele foi intensificado de uma maneira que judeus e muçulmanos só poderiam viver nessa região caso se convertessem ao cristianismo, senão deveriam sair de lá. O filme cita sobre a inquisição espanhola, mas a que eles estão enfrentando na região de Castela, na Abadia, é a inquisição medieval controlada pelo Papa, isso faz com que o selo do vaticano tenha mais sentido do que que o símbolo real do reino de Castela. Certo, achei importante que as pessoas vissem o filme e pudessem diferenciar os diferentes tipos de inquisições que existiram na idade média e a confusão que o filme trouxe. Para não dizer que a inquisição espanhola nunca julgou sobre bruxas, isto aconteceu somente na região norte do país com os bascos. Como a região do filme trata-se de Castela que é onde fica a atual capital da Espanha, a inquisição espanhola foi mais política do que religiosa.
O filme trouxe a premissa de padres exorcistas possuídos e que fizeram demônios comandarem partes das inquisições realizadas pela igreja segundo o filme. Será que temos algum relato desse tipo durante a idade média?
O caso mais comum que temos sobre tal fato é sobre a possessão das freiras de Loudun. A possessão das freiras de Loudun foi um suposto conjunto de possessões demoníacas que ocorreram em Loudun, França, em 1634. Este caso envolveu as freiras ursulinas de Loudun que foram alegadamente visitadas e possuídas por demônios.
Em 1632, a irmã Jeanne Agnes e dezesseis freiras dos conventos ursulinos, alegadamente possuídas por demônios, sofreram convulsões e proferiam linguagem abusiva. O padre Jean-Joseph Surin exorcizou os demônios, convidando-os a entrar no seu corpo. Por causa disso, perdeu as suas capacidades mentais. Cometeu autoflagelação e tentou suicidar-se. Quando descreveu a situação difícil pela qual passou, o padre disse que não conseguia compreender o que lhe tinha acontecido quando o espírito desconhecido entrou no seu corpo. Teve a sensação de que tinha duas almas e que a alma estranha possuía uma segunda personalidade.
O padre Urbain Grandier foi condenado pelos crimes de feitiçaria, feitiços maléficos e pelas possessões que recaíram sobre as freiras ursalinas, tendo por base as palavras proferidas pelas freiras. Até as possessões de Alix-em-Provence, as palavras pronunciadas por freiras possuídas nunca teriam sido consideradas uma prova válida.
Sobre esta possessão existe o relato de que o padre Mignon tentava expulsar o padre Grandier de lá e fez esse plano para que pensassem que ele praticava feitiçaria nas freiras. Para encurtamos um pouco sobre a história, a madre Jeanne jurou que ela e outras freiras foram possuídas por dois demônios: Asmodeus e Zabulon. Agora nós voltamos ao filme.
Com a história das freiras possuídas na França, chegamos ao nome de Asmodeus, este é o nome do demônio que possuiu o garoto para atrair o padre exorcista Asmodeus e possuí-lo. Os demais eventos que ocorreram no filme assemelham-se a história das freiras possuídas, no final, Asmodeus possuí o padre Amorth que tenta suicidar-se para que o demônio não chegue ao Vaticano através do corpo dele.
Enquanto o padre está possuído, várias pessoas no Vaticano começam a sofrer com dores no peito e o próprio para é internado passando muito mal.
Asmodeus é normalmente representado como uma espécie de quimera, com asas e três cabeças: uma de homem com hálito de fogo, uma de touro e uma de carneiro, símbolos de virilidade e fertilidade. Porém, pode ser representado também como uma espécie de feiticeiro capaz de adotar a forma de aranha.
Segundo seitas satânicas, a letra inicial de seu nome é parte integrante do acrônimo Baal, nome do deus pagão citado tanto nas escrituras sagradas do Torá (judaísmo) quanto na Bíblia (cristianismo), que se traduz nos nomes dos demônios Beelzebub, Astarot, Asmodeus e Leviatã.
No folclore judeu foi amante de Lilith que é considerada a primeira esposa de Adão, anterior a Eva. Ela teria deixado o Jardim do Éden por sua própria iniciativa e se instalado próximo ao Mar Vermelho, juntando-se lá com Asmodeus, o qual seria seu amante, e outros demônios. É também considerada símbolo da luxúria.
Para quem gosta de filmes de exorcismos, ele traz muitos dos rituais praticados por exorcistas católicos, apesar desses contextos que divergem com a história em si, não podemos nos esquecer que se trata de um filme e, todo filme traz em grande parte, uma licença poética porque contar a história como realmente aconteceu em forma de filme pode não ser tão empolgante. De qualquer maneira acredito que o único ponto que pode frustrá-lo nesse filme é essa passada de pano sobre a inquisição feita pela igreja dando a entender que foi um ato feito por demônios mas, estudando a história, vimos que os atos foram feitos por pessoas ruins e que buscavam poder como no caso do padre Grandier que foi queimado na fogueira por ir contra o cardeal Richelieu. Se você é fã de filmes do gênero, vale a pena assistir. E se assistiu, comente aqui o que achou do filme ou se já leu um dos livros do padre Amorth.
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