Postado por Vitor Zehel em Filmes e Séries | 0 Comentário(s)
O título da minha revisão pode até parecer dramático, mas como venho me especializando em crítica para informar a vocês sempre de forma técnica e coerente se um filme é bom ou ruim. Dito isso, vamos ao primeiro tópico:
O filme fala explicitamente que é baseado na obra de Saint Seiya, ou seja, não é uma adaptação do mangá ou anime para o live action. Quem foi no cinema com o intuito de ver o anime em formato de live action com certeza vai achar ruim porque em nenhum momento foi dito que seria isso. Quando um filme é baseado numa obra, ele não tem a obrigação de manter o enredo original de sua versão original, entretanto, ele deve sim manter a essência das personagens principais da obra e não preciso te informar que o personagem principal da obra é o Seiya afinal, o nome original da obra é Saint Seiya e não cavaleiros do zodíaco. Apesar de Seiya ser o protagonista, sabemos que os fãs do anime tem seus cavaleiros preferidos que não são o protagonista, muitos gostam do Hyoga, outros do Shiryu, muitos do Shun e, sabemos que grande parte do público tem uma grande afeição por Ikki por toda a bagagem que ele carrega dentro do mangá e anime. Mas temos que entender que o protagonismo sempre será do Seiya não importando nosso gosto pessoal. Nisso o filme trouxe bem e não falhou.
Esse é um assunto muito pertinente nos dias de hoje por sempre mudarem etnia de personagens, opção sexual e tudo mais. No caso do filme, não rolou nada de lacração ou empoderamento de Saori (que até poderia ser aceitável por ser uma deusa e não uma mera humana). O filme mostra bem que tanto Seiya como Saori ainda não tem controle sobre seus cosmos e ainda procuram entender muitas coisas sem ter alguém para explicar pois Kido nesse caso apenas a encontrou e não sabe na real sobre como funcionam as coisas. Talvez Marin possar ter explicado a ele alguma coisa mas o filme não deixou claro como Marin interagiu com ele e como sabiam onde levar Seiya para aprender e se tornar cavaleiro. Agora para prosseguir terei que falar sobre o filme em si, ou seja, teremos muitos spoilers para quem não quer assistir sem saber o que acontece de fato no filme.
O filme explora bem sobre a irmã de Seiya o que realmente é o início da jornada de Seiya até mesmo na obra original. Ele não liga sobre Atena ou ser um defensor e guardião dela, ele buscou o poder apenas para ir atrás de sua irmã. No caso do anime (citarei mais o anime pois nem todos acompanharam o mangá), Seiya tornou-se cavaleiro pela promessa de Mitsumasa Kido de que, ele voltando como cavaleiro, ele encontraria sua irmã desaparecida. No filme, conforme Seiya vai despertando o cosmo e tendo suas cosmovisões ele lembra que o próprio Kido junto com sua esposa, levaram sua irmã. E a história de como aconteceu se desenvolve através dessas cosmovisões que todos que possuem o cosmo parecem ter ou pelo menos, só ocorreu com o Seiya e a Saori no filme. Algumas coisas ficaram sem explicação no filme como o fato da Seika carregar a armadura de Pégaso e já parecer saber que o Seiya seria o cavaleiro de Pégaso. Acredito que isso fez com que a pessoa que assistiu fique querendo entender como ela já tinha esse conhecimento. Seria possível que o pai deles fosse um cavaleiro e isso foi herdado? Que tipo de relação Seika tem com os cavaleiros? Mas talvez só consigamos saber se o filme tiver continuação.
A relação entre Seiya e Saori no filme começa da mesma forma que foi no mangá e anime. No anime, essa relação vinha dos tempos de criança em que Saori, sendo mimada pelo Mitsumasa Kido fazia os outros de capacho e o único gado dela era Jabu de unicórnio. Por ela ser desse jeito, Seiya já não ia com a cara dela e nem se importava em ser um guardião dela, sua única preocupação até o momento, sempre foi o de encontrar a irmã. Mas no anime, conforme a trama vai se desenvolvendo Seiya e Saori começam a ter um relacionamento diferente e muitas vezes, percebe que rola algo mais entre ser um guardião e uma deusa. No filme, a produção teve menos de duas horas para mostrar o relacionamento dos dois e pra mim foi satisfatório como ocorreu. De fato eles não se conheciam quando ele era criança, e no momento que conheceu, ela parecia uma adolescente comum e mimada. Sua compreensão com a Saori veio a partir do primeiro surto cósmico dela. Sim, Saori briga com Atena dentro de seu corpo dando a entender no filme que Saori é uma humana que recebeu a alma de Atena mas que possui sua própria alma também e as duas vivem em conflito. Isso pode parecer bem confuso para muitos pois os fãs enxergam a Saori e Atena como a mesma pessoa mas, de fato no anime Seiya não enxerga Atena e sim Saori Kido e sua luta para protege-la não se deve ao fato de ela ser Atena mas sim de que ele construiu um relacionamento afetivo com a Saori, o filme tenta mostrar isso de forma muito rápida e atropelada mas obtendo um certo êxito. Pra mim, a visão de Seiya sempre foi de proteger a Saori e não Atena. Acredito que essa foi a visão que o produtor também teve e trouxe para o filme. Apenas acredito que no filme, colocaram de forma mais explicita uma luta entre a humana Saori e a alma da deusa Atena dentro dela. Para sabermos mais em como isso irá se desenvolver só mesmo vendo a continuação desse filme.
Tirando o fato de você saber quem era o ikki pelo material promocional, no filme ele ficou apagado e só é apresentado ao público já pro final quando ele interroga um dos subordinados de Kido usando o golpe fantasma de Fênix. Muita gente sentiu falta da pronúncia dos ataques feitos por eles mas achei válido não ocorrer porque simplesmente não faz diferença para que o golpe seja executado diferente do universo Harry Potter onde pronunciar a magia faz parte do feitiço. Você geralmente só vai escutar a pronúncia de um golpe nas artes marciais se a pessoa está te ensinando, numa luta real, ninguém fica pronunciando o que vai fazer, e se você está assistindo essa luta, o nome dos golpes geralmente é citado pelo narrador e comentaristas. Talvez, nesse sentido o filme falhou em apresentar isso para a nova geração e para quem assistiu já era óbvio os golpes que eles estavam utilizando mesmo não pronunciando os nomes. Mas voltando ao Ikki, sua atuação foi bem discreta e quase coadjuvante se não fosse a luta no final contra o Seiya que foi interrompida pela explosão de cosmo da Atena. O filme não explica bem o motivo dele querer destruir Atena e levar a armadura de ouro. Uma coisa que ficou implícita foi o fato de que o Ikki também foi treinado por Marin antes do Seiya pois ela o cita ao Seiya quando ele pede para ser treinado. Além disso, a fala de Marin mostra que Ikki já tinha o pingente da armadura de Fênix quando foi treinar com ela. Por isso fica difícil saber a motivação dele nos levando a uma única conclusão: sua cosmovisão pode ter mostrado Saori destruindo tudo quando se torna a deusa Atena e por isso ele tenta destruí-la. Mas isso fica confusa quando ele fala com a Guraad que esse é apenas o começo da guerra contra os deuses. Além do mais, precisamos lembrar que a luta de Aoilos e Shura acontece no começo do filme mostrando que existe uma rebelião no santuário. Se o filme explicasse que o Ikki foi treinado na Ilha da Rainha da Morte seria mais plausível ele já ter contato com o santuário e estar a serviço do grande mestre que deseja matar a reencarnação de Atena. Apesar de ter gostado mais da armadura dele do que a de Pégaso e de sua luta e aplicação dos golpes que o cavaleiro de Fênix possuem estar presentes no filme, achei que ele foi muito ignorado e foi dado mais ênfase ao Cássios.
Esse foi o primeiro grande rival de Seiya, no anime os dois se enfrentaram disputando a armadura de Pégaso no filme, Cássios é dono de um ringue com lutas clandestinas utilizado para encontrar jovens que possuem o cosmo. Apesar do Cássios nem saber do que se trata e de como saber que alguém tem o cosmo ou não, ele identifica isso no Seiya e avisa a Guraad que vem logo em seguida para raptá-lo. No meio disso tudo, chega Almán Kido (Mitsumasa) e Malock para tirar Seiya de lá e treiná-lo para tornar-se o cavaleiro de Pégaso e cumprir seu papel de guardião da deusa Atena. Muita gente não gostou da escolha do ator e preferia ver o The Rock como Cássios no filme, muitas coisas do anime foram mescladas em cima do personagem, mas em nenhum momento tivemos um Cássios igual ao do anime que depois tem sua rendeção ajudando Seiya na luta contra Aioria de Leão na saga das doze casas. Realmente os fãs de CDZ não vão gostar desse Cássios mesmo ele sendo funcional e bem trabalhado no filme. Mas eu preciso avaliar pelo lado técnico e proposta do filme, nesse sentido, ele conseguiu ser bem mais vilão que o Ikki e a Guraad sendo principal antagonista do filme sem nem se importar com a presença de Atena.
Esse foi o personagem que muitos não gostaram por não ser oriental mas o fato é que o filme não é uma adaptação do anime e no mundo real não temos tantos empresários japoneses de sucesso no mercado para fazer o que ele fez. Faz sentido o Kido ser um mega empresário bem sucedido e mais sentido ainda ele ter interesse pela história pois se não fosse isso como ele estaria presente na queda de Aiolos com Atena. Além disso sua esposa Guraad também estava presente no evento dando a entender que ele estava num momento de férias apreciando os monumentos da Grécia Antiga quando viu Aiolos caindo do céu com uma criança no colo. O papel de Sean Bean é discreto se serve como uma ponte entre o encontro de Saori e Seiya. No anime, Mitsumasa Kido adota jovens do mundo inteiro que possuem o cosmo para que se tornem cavaleiros e protejam a deusa Atena da ameça que Aiolos lhe contou. Além disso, o próprio disse para entregar a armadura de ouro ao mais forte desses cavaleiros, por isso ocorre o torneio galáctico. O torneio não ocorre no filme porque esse diálogo com Aiolos não ocorreu, e devido ao incidente de um dos surtos cósmicos da Saori fazer sua mão Guraad perder os braços, a armadura de ouro foi utilizada para mantê-la viva. Além disso, ela precisou consumir o cosmo de outras pessoas para sobreviver também e isso faz ter sentido o fato de ela querer matar a deusa Atena. Na visão dela, aquele poder só serviria para destruir o mundo e não para proteger como seu marido pensava. Assim como no anime, ele é um personagem que dá inicio a obra mas que encerra sua participação no começo deixando com que Saori tenta que descobrir tudo sozinho com o apoio do Malock e de seus cavaleiros.
Sua motivação no filme é mais plausível que no 3DCG e sua redenção é aceitável ao ver todo o sofrimento da Saori quando ela está prestes a morrer. Claramente ela foi manipulada no filme talvez pelo Ikki ou por alguém acima dele, isso não ficou claro ainda. Mas não tenho o que reclamar sobre a personagem.
O pessoal odiou o roteiro do filme porque foi atrás de uma adaptação do anime coisa que não é e já foi dito de forma explícita desde seu anúncio. Sobre as armaduras, ficou claro que elas evoluem conforme o cavaleiro evolui seu cosmo então poderemos ver diversas formas da armadura de Pégaso caso o filme consiga ter uma continuação. O brinco na orelha de Ikki não faz sentido para nós da geração passada, mas faz para a geração atual. O filme peca em tentar mesclar nostalgia e trazer uma nova roupagem para a nova geração pois o filme acaba ficando confuso tanto para os nostálgicos quando para os que estão iniciando sua jornada em Saint Seiya. O fato de já sermos adultos faz com que não consigamos engolir alguns furos característicos da própria obra. Então o que poso dizer é o seguinte:
- Quem vai em busca de uma adaptação perfeita do anime vai odiar com certeza pois a proposta do filme jamais foi essa;
- Quem gosta de como era o enredo do mangá e anime e não aceita mudanças irá odiar mesmo o filme sendo bom;
- Quem avalia essa releitura sem pesar o anime e mangá em cima, vai curtir o filme porque mesmo sendo diferente, a essência de Saint Seiya está presente no filme e a música Pégaso Fantasy também;
- A nova geração que não conhece Saint Seiya pode curtir mas fixar confusa com algumas coisas que somente quem conhece a obra irá perceber.
Nesse contexto não dá para o filme ser nota 10 mas também não é horrível como alguns vem falando pela internet.
Minha nota de 0 a 10 será 8 não só pelo filme em si mas, porque ele tem potencial para ter continuação e durante os novos filmes, corrigir as falhas e trazer uma releitura boa de Saint Seiya para o universo cinematográfico.
Caso você tenha alguma observação ou dúvida sobre o filme, podemos discutir abertamente através dos comentários.
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